Boa sorte Olegário

Não considero que a arbitragem portuguesa seja excelente. Mas também não alinho no coro de protestos que, semana após semana, se escutam por aí, acusando os homens do apito de serem responsáveis por todas as derrotas e empates dos conjuntos mais fortes (com a particularidade de, no final de cada época, serem estes os mais beneficiados). Que existem erros de julgamento nos jogos de futebol em Portugal é verdade, que por vezes custa perceber como é que os juízes não observam determinadas situações também, mas daí a dizer-se, à boca cheia, que são os árbitros quem decide as partidas e consequentemente os títulos... é um exagero.Nunca consegui perceber todos aqueles (e não são tão poucos quanto isso) que, mal se sabem as nomeações, gritam de imediato: "esse gajo?! Em 2003, quando defrontámos o clube A, em casa, não viu um penálti do tamanho do estádio e, em 2006, mostrou 2 amarelos sem pés nem cabeça."Conversas como a que atrás referi são mais que muitas, um pouco por todo o lado. E servem apenas para alimentar a tradicional polémica de que os portugueses são adeptos incondicionais, assim como para deixar, antecipadamente, os árbitros numa situação delicada. E também são uma "muleta" agradável para, depois das partidas, justificar eventuais insucessos.Sejamos claros: a arbitragem portuguesa é tão boa (ou tão má) como quase todas as outras. Basta ter televisão e ir acompanhando o que se passa lá por fora, nos diversos campeonatos e nas provas internacionais, para concluir isso. Aceito que, aqui e ali, existem juízes com personalidade mais vincada, mas tecnicamente falando erram tanto ou mais que os nossos. Contudo, já se sabe, a conversa da galinha da vizinha também se aplica à arbitragem...Vem tudo isto a propósito da recente nomeação de Olegário Benquerença para o Mundial da África do Sul. Não sei se ele é o melhor ou o pior árbitro do país, nem me interessa. A FIFA considera que ele tem valor para lá estar, da mesma forma que a UEFA o achou suficientemente competente para dirigir a primeira mão do AC Milan-Manchester United ("só" o duelo mais importante dos "oitavos" da "Champions") e os responsáveis lusos o escalaram, quase consecutivamente, para um Sporting-Benfica (Taça da Liga) e um FC Porto-Sp. Braga (Liga) decisivos. Logo, se a voz popular tem razão, temos de concluir que os líderes da arbitragem deviam ser todos rapidamente substituídos.Benquerença irá estar na África do Sul e ainda bem. Faz parte do futebol português e vai contribuir para marcar a nossa posição no contexto internacional. Vai cometer erros? Com toda a certeza, mas alguém sabe dizer o nome de um dos eleitos que, seguramente, só tomará decisões acertadas? Pois é... isso não existe. Tal como não existem jogadores que não falham.Cada vez que alguém se lembrar de barafustar com a convocatória de Olegário, convém recordar que um sueco de nome Martin Hansson também vai estar no Mundial. Ele que, em Paris, não viu uma dupla infracção de Henry, fulcral para a França "carimbar" o visto, perante o olhar incrédulo dos irlandeses. Ele que, no Dragão, achou por bem que o FC Porto marcasse de forma célere um livre indirecto na área de rigor do Arsenal. Tão célere que, nas imagens, podemos ver que não houve tempo para fazer barreira. E o senhor não viu Micael a cobrar a sanção (estava de costas) e só levantou a mão quando Falcão se aprestava para empurrar a bola para o fundo da baliza. Os portistas foram inteligentes e souberam aproveitar a situação, da mesma forma que os ingleses foram meninos (logo na forma como provocaram a falta), mas o árbitro esteve mal. Enfim, Hansson é um "artista" que, basicamente, merece tanto estar no Mundial quanto o sapateiro que arbitra ao fim-de-semana o solteiros-casados da sua aldeia.Mas, não se pense que este sueco é um caso único. O golo da vitória do recente Bayern Munique diante da Fiorentina também foi de bradar aos céus (o norueguês Tom Ovrebo só não vai ao Mundial porque fez uma exibição paupérrima no Chelsea-Barcelona da época passada, mas esteve na pré-lista...). E quem quiser puxar pela memória, tente "visualizar" os penáltis que os árbitros não viram a favor de Portugal durante a fase de qualificação; os enganos que prejudicaram Sporting e V. Guimarães, nos últimos anos, no acesso à "Champions", etc, etc...Erros há em todo o lado. Não são exclusivo de Portugal. E muito menos de Olegário Benquerença.

PS - Perante a ideia atrás exposta, só me dá vontade de rir quando ouço dizer que será possível, em breve, ter estrangeiros a dirigir jogos das competições lusas. Os custos devem ser simpáticos e, claro, a melhoria das decisões garantida. Para ter a certeza que tudo corre bem, sugiro que seja o tal de Hansson a inaugurar a experiência. Pode ser que acabe logo por aí.


Luis Avelãs, In Record, de 20 de Fevereiro de 2010

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